27.7.13
23.7.13
silêncio [II]
Barbara [2012, Christian Petzold]. Barbara é um tríptico melancólico. Uma condição política de espaço-tempo [Alemanha de Leste - anos 80]. Uma mulher com olheiras, visivelmente cansada, dentro daquela condição. Os planos do vento contra as árvores em contraste com a cor imóvel e pálida dos corredores de um hospital. Barbara é um tríptico simples sobre múltiplas concepções divisórias da vida; no contexto específico da Alemanha antes da queda do muro e no contexto mais lato do ser humano em constante reedificação. E tudo isto tratado de um modo simples, sem abalos, sempre no propósito de um silêncio que supera a saturação política; a cor do silêncio como ritmo central e último do tríptico.
às
13:45
21.7.13
silêncio [I]
Há um assunto sobre o qual não há terapia possível. A morte. A perda irreparável dos que amamos só nos leva para um caminho que, não sendo solução ou terapia que se faz no encalço de uma solução, é, pelo menos, um desafio. O desafio de sabermos lidar com as palavras que não somos capazes de dizer, o desafio de sabermos lidar com as palavras que não existem a não ser no espaço da ausência total das coisas visíveis, o desafio de aprendermos o verdadeiro significado do silêncio, a ocupação verdadeira do silêncio, a importância do silêncio de que tanto precisamos, de que o mundo tanto precisa, e que só as grandes despedidas nos ensinam. O silêncio que a morte nos ensina é puro e humilde. É como o abraço de uma criança que sente frio a meio da noite.
às
13:30
19.7.13
status
Este
estado de fronteira onde nem sequer estás, mas em que indefinidamente
te sentes. Um lugar sobre o qual não é possível dizer aqui, ali, acolá, longe ou perto. Não é lugar de batalha, não é lugar de morte,
mas também não o é de vida; não é lugar de luz ou de sombra, não é lugar
vazio ou cheio, não é céu nem terra; é lugar onde a tábua se fez rasa,
mas para ser ainda mais tábua. Oxalá só uma tábua. Só uma coisa
concreta, não pedes mais nada, pelo menos uma coisa concreta. Uma coisa
que alguém possa tocar para de ti dizer apenas isto: Ah, estás aqui,
ali, acolá, longe, perto. O lugar em que, independentemente de tudo, estás.
às
17:19
17.7.13
homens | mulheres - mulheres
Gosto tanto de homens femininos, aqueles que chamam as suas mulheres pelos nomes delas, isto é, mulheres. Esse homem, feminino, de mãos bravas e corpo de ninho, continua tão impossível quanto a Dulcineia do Quixote. Valha-nos a nós, mulheres, as mulheres que são mulheres.
às
16:55
15.7.13
astrid heeren
Spaghetti Alla Bolognese. Enquanto mexo a
carne com a colher de pau, penso nos dentes de Astrid Heeren. A boca a
diluir-se lentamente como um fim de dia; a aparição subtil dos dentes,
já um pouco sinuosos e escurecidos nos intervalos, como um pecado. Gosto
tanto de me ocupar na cozinha.
às
16:45
11.7.13
9.7.13
7.7.13
ocupação preferida: amar
Sinto tanta pena das pessoas que deixaram de saber amar. Sinto tanta pena das pessoas que não se deixam amar. Já não são exactamente pessoas; são moluscos fechados, moles de carácter, uma pequena animação encarquilhada, sem sorriso e sem dignidade. Não sinto raiva nem desprezo por estes pequenos seres animados. Apenas pena. Uma pena profunda, uma pena cancerosa.
às
16:07
3.7.13
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