Bastaria
recuar 20 anos. O meu mundo novamente sem telemóveis. Os telefones de
fio, os números metidos num disco. O meu mundo sem computadores. Somente
papel, a caneta, os ctt. O telefone a tocar sem sabermos quem do outro
lado. Bastaria recuar 20 anos, tantos, eu sei, já assim tantos, já
passaram tantos. Agora já digo como a minha mãe dizia há vinte anos sem
que eu fosse capaz de imaginar o que seria,
aliás, como seria sentir quando dizemos : «Há 20 anos, no meu
tempo...». Hoje, no jardim botânico, lembrei-me muito da colcha branca
sobre a cama da minha avó materna. Quis deitar-me sobre ela toda a
tarde. Quis deitar-me nela o resto da minha vida. Sem telemóveis, sem
computadores, a minha mãe com a minha idade de hoje, 33 anos, a minha
mãe a dizer-me «Há 20 anos...» e eu apenas só um instante no presente.
Eu apenas eu.