Leio, pela noite dentro, o livro A Mãe, de
Maximo Gorki. Deixo-me chorar de vez em quando, porque me comovo sempre
muito nos sonhos dos outros, no modo gigante como quantos pequenos Homens
(e tão poucos, afinal, para a imensidão do mundo) souberam
criar tanto e tão bem em torno de nada e para nada: porque o sonhador é
o enorme criador de tudo afinal para nada, de tal modo o sonhador nasce
para a orfandade total do mundo, de tal modo o sonhador nasce apenas
sozinho para si mesmo, num mundo sem apoio dos Homens em geral e
tão-pouco dos outros sonhadores em particular, cada qual órfão de tudo
e, por isso, cada qual criador de nada e para nada. Cada qual a
precisar, afinal, apenas da Mãe, a mãe ventre e a mãe metáfora. A mãe
que nos salve disto tudo.