Gosto
tanto de homens. Gosto tanto de mulheres. Quer dizer, não é que goste
de homens e de mulheres, o que eu gosto é da ideia de que gostaria que
fosse possível gostar de gente. Colijo-os um a um, uma ocupação como outra qualquer. Saio à rua e tento,
nas filas, nos cafés, no supermercado, nos transportes públicos, no
jardim, tento observar detalhadamente o rosto de todos, mas nunca sou
capaz de o fazer. Olho de través, sinto medo de que percebam que estou a
tentar levá-los para casa, sinto medo de que percebam que os quero levar
para dentro do meu ensimesmamento, essa vitrine tão vazia e tão
heterogénea.