pruitt–igoe não vem em vitrúvio
No
seu Livro VI, p.219, [Trad. M. Justino Maciel], Vitrúvio cita
Teofrasto a propósito da importância do conhecimento e da sabedoria como
condição de melhor adaptação do cidadão ao mundo inteiro: "Sozinho, o
douto não é peregrino em terras estranhas, nem tem falta de amigos
quando perde os familiares e as pessoas íntimas, mas em toda a cidade
será cidadão, e sem temor poderá desdenhar os penosos reveses da
fortuna; e quem se julgar protegido, não pelo saber mas pela confiança
nos bens materiais, viaja por caminhos inseguros e arrisca-se a uma
vida instável e dolorosa". Há sempre uma passagem qualquer de Vitrúvio
que encaixa perfeitamente nesta ou naquela passagem da minha vida.
Leio-o e compreendo-o plenamente e procuro, de seguida, aplicá-lo,
seguindo com respeito aquilo que ele entende como princípio fundamental e
justificativo da teoria arquitectónica: a colocação em prática de todos
os pressupostos teóricos. Ora, e no que à citação acima diz respeito, o
problema reside aqui mesmo: na hora de meter em prática, por esse mundo
fora, o princípio egrégio do conhecimento e da sabedoria, o conflito
instala-se: como encara a realidade do mundo de hoje a sombra ameaçadora
e persecutória daquele que não tem mais para dar a não ser, antes de
tudo, o amor solitário e louco à sabedoria? Em Vitrúvio encontram-se respostas e
soluções para este conflito, mas Vitrúvio, ao contrário do mundo actual
da minha vida, é um Tratadista que aponta para soluções de Construção
harmoniosa; já o mundo actual da minha vida está mais para as sequências
desconstrutivas caóticas, sem controlo algum, à maneira do
Koyaanisqatsi de Godfrey Reggio. Meu sábio, pobre pobre Vitrúvio.