Tudo nesta série - «In Treatment» - é conforto, mesmo em se tratando
de uma série que acontece nos contornos mais perturbantes e inquietantes
da condição humana; é uma série que acontece nas zonas mais
indiscerníveis do humano. As personagens principais são as vozes e,
principalmente, as vozes em silêncio. Uma vez por outra, chove do lado
de fora do consultório do Dr. Paul Weston e ouve-se tão bem a chuva a
bater na vidraça, coisa rara em televisão, que apetece estar lá, do
lado de dentro, a olhar para as coisas do lado de fora. Na primeira
temporada, o consultório é uma divisão da casa onde vive o Dr. Paul. O
cancelo que dá para a porta de entrada dos "pacientes" faz um rangido de
cada vez que um deles chega e o abre para uma nova sessão. Para mim, a
terapia começa imediatamente depois do rangido do cancelo. Para mim, a
terapia começa no próprio rangido do cancelo. No interior do
consultório, uma espécie de ampulheta de água induz-nos o consolo de um
tempo mais demorado; um tempo que não queremos que acabe enquanto dura
cada um dos episódios. Um tempo que queremos demorado, sobretudo quando
tudo é bem mais complicado para lá da vidraça, da porta, do gemido do
cancelo que dá para o mundo.