24.11.12

terapia





















Tudo nesta série - «In Treatment» - é conforto, mesmo em se tratando de uma série que acontece nos contornos mais perturbantes e inquietantes da condição humana; é uma série que acontece nas zonas mais indiscerníveis do humano. As personagens principais são as vozes e, principalmente, as vozes em silêncio. Uma vez por outra, chove do lado de fora do consultório do Dr. Paul Weston e ouve-se tão bem a chuva a bater na vidraça, coisa rara em televisão, que apetece estar lá, do lado de dentro, a olhar para as coisas do lado de fora. Na primeira temporada, o consultório é uma divisão da casa onde vive o Dr. Paul. O cancelo que dá para a porta de entrada dos "pacientes" faz um rangido de cada vez que um deles chega e o abre para uma nova sessão. Para mim, a terapia começa imediatamente depois do rangido do cancelo. Para mim, a terapia começa no próprio rangido do cancelo. No interior do consultório, uma espécie de ampulheta de água induz-nos o consolo de um tempo mais demorado; um tempo que não queremos que acabe enquanto dura cada um dos episódios. Um tempo que queremos demorado, sobretudo quando tudo é bem mais complicado para lá da vidraça, da porta, do gemido do cancelo que dá para o mundo.