Com
18 anos, eu empinava o nariz e dizia que saía a mim mesma,
presumidamente imune ao mundo, nada me perturbava. Na casa dos 20, eu
achava que nada me poderia influenciar a não ser eu mesma. Com trinta
anos, precisamente 33, a idade de Cristo morto, eu odeio todos os
momentos em que saio a mim mesma e à minha infinita fragilidade humana. De resto, muito sozinha nas três idades.
25.10.13
23.10.13
ensimesmamento
A
tendência, ao nível ironicamente salvífico das artes, será a do
ensimesmamento: cada um, à sua maneira, terá de aprender a melhor
maneira de sobreviver em si mesmo. Com mais ou menos sucesso, seremos, a
curto e a médio prazo, todos proustianos. Não há outro caminho a
trilhar face à violência acelerada e globalizante do mundo.
às
23:02
21.10.13
19.10.13
17.10.13
punctum do abismo
Uma fotografia minha a rir, de ar
aparentemente leve e feliz, «compra» indubitavelmente mais «gostos» do
que uma fotografia minha verdadeiramente melancólica, obscura,
ensimesmada, direi mais, captada no punctum do abismo. Chegámos a um
tempo em que nunca foi tão pertinente invocar para a leveza a sua
esmagadora insustentabilidade.
às
22:45
15.10.13
nick drake
Nick Drake tinha 26 anos quando, deliberada ou indeliberadamente, se matou. Aqui, o drama maior não consiste na sua projecção deliberada ou não para a morte, mas sim no facto de Nick Drake, como tantos artistas mais ou menos conhecidos, ter nascido para o limbo. Há dois fins possíveis para aqueles que nascem para o limbo: a morte deliberada ou a vontade permanente, mais ou menos cobarde, da morte não deliberada. Entrementes, a inevitabilidade do limbo impõe um único desafio e que não passa por se lhe escapar, mas por múltiplas tentativas de sobrevivência. Tenta-se, acima de tudo, sobreviver ao limbo através de duas atitudes principais: Primeiro, assumindo o mais cedo possível que se nasceu para o limbo (primeiro dos remédios sarcásticos). Segundo, peneirando-se o limbo dia-a-dia até que não restem mais sobejos à superfície dos dias, isto é, sacudindo-se a indefinição da vida o melhor que se pode, com ou sem a consciência de que a semente do trigo escapa sempre, ainda que para lugar igualmente incerto, ao joio da superfície da peneira. Ora, a morte, para quem deliberada ou indeliberadamente a antecipa, parece ser, simultaneamente, não apenas a última das incertezas, mas pelo menos o último grito que alivia (o remédio mais sarcástico), porque é ela quem poderá definir, doravante, o rumo da semente que o movimento do crivo foi tentando lançar à terra. Ao entregar o melhor de si à morte, aquele que nasceu para o limbo sabe que a semente encontrará definitivamente um dos dois possíveis caminhos: alguém a apanhará, alguém a meterá na terra e da terra dará fruto vivo, viverá de vez; ou, então, esquecida, não será lançada à terra, não dará fruto, morrerá de vez (a velha resolução bíblica, se assim quiserdes). Quem nasce para o limbo acredita, por isso, que a morte é o único veículo que resolverá o limbo. Através dela, ou se é atirado para o poço do esquecimento ou para a definição salvífica da reconstrução histórica (ironia da pós-vida na presunção do arquivo das memórias, se assim quiserdes). O urgente, para quem nasce para o limbo, não é, pois, a vida para a qual indefinidamente se nasceu e que tem de ser vivida a muito e todo o custo, mas a definição clara daquilo para o que se nasceu, nem que para isso seja necessário entregar à morte a mais irónica das resoluções dessa indefinição. Há, no meio disto tudo, uma questão que nunca deixará de ser eterna. Enquanto realmente vivos, há aqueles que se sentem indefinidamente no limbo da natureza-morta (os artistas são os mais atreitos). Depois de realmente mortos, como é possível resgatá-los em definitivo desse limbo, isto é, resgatá-los do limbo de si mesmos sem que os matemos uma segunda vez?
às
22:40
13.10.13
11.10.13
20 anos
Bastaria
recuar 20 anos. O meu mundo novamente sem telemóveis. Os telefones de
fio, os números metidos num disco. O meu mundo sem computadores. Somente
papel, a caneta, os ctt. O telefone a tocar sem sabermos quem do outro
lado. Bastaria recuar 20 anos, tantos, eu sei, já assim tantos, já
passaram tantos. Agora já digo como a minha mãe dizia há vinte anos sem
que eu fosse capaz de imaginar o que seria,
aliás, como seria sentir quando dizemos : «Há 20 anos, no meu
tempo...». Hoje, no jardim botânico, lembrei-me muito da colcha branca
sobre a cama da minha avó materna. Quis deitar-me sobre ela toda a
tarde. Quis deitar-me nela o resto da minha vida. Sem telemóveis, sem
computadores, a minha mãe com a minha idade de hoje, 33 anos, a minha
mãe a dizer-me «Há 20 anos...» e eu apenas só um instante no presente.
Eu apenas eu.
às
22:36
9.10.13
7.10.13
26.02.2014
Paco de Lucía. Nunca me passa pela cabeça que os meus heróis morram. A terem de morrer, que não morressem antes de mim.
às
22:27
5.10.13
3.10.13
pessoas comuns
A pensar no sofrimento das pessoas que, de tão excessivamente comuns, são as profundezas do meu Olimpo.
Ordinary People [Dir. Robert Redford | 1980]
às
14:27
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